Fernando Gontijo assume como novo diretor de Investimentos da Fundação Itaú Unibanco
Ao longo de quase três décadas de carreira no Itaú Unibanco, Fernando Gontijo construiu uma trajetória sólida no mercado financeiro, com passagens por áreas de riscos, incorporações e expansão internacional do banco. Estudou Economia e Engenharia na Unicamp, com especializações em Banking pela Fundação Getúlio Vargas e MBA em Finanças pelo Ibmec/Insper. Desde 2019 atua na Fundação Itaú Unibanco como Superintendente de Investimentos e assumiu o desafio da cadeira de diretor de Investimentos para o ciclo de gestão 2025-2029. Nesta entrevista, ele fala sobre sua carreira, os desafios de gerir um portfólio bilionário e as perspectivas para o futuro da previdência complementar.
O que a sua trajetória profissional traz de bagagem para a função de diretor de Investimentos?
Entrei no Itaú Unibanco em 1995 e passei por diversas atividades, especialmente ligadas a controles de riscos, fusões e estruturação de operações no Brasil, América Latina e Europa. Desde 2018, comecei a atender a Fundação ainda na estrutura da patrocinadora e em 2019, fui convidado a estruturar a área de Controle de Investimentos dentro da entidade. Essa vivência, somada ao aprendizado do setor bancário, me deu uma visão abrangente sobre risco, governança e responsabilidade fiduciária, o que eu considero fundamental para esta nova etapa.
Qual é a importância da área de investimentos dentro da Fundação Itaú Unibanco?
A área de investimentos tem importância relevante dentro do contexto de planos de benefícios. Estamos falando da gestão R$ 34 bilhões em ativos que precisam estar alinhados às Políticas de Investimentos, aos compromissos atuariais e ao apetite de risco adequado. A área de investimentos garante que os recursos sejam alocados com prudência, eficiência e visão de longo prazo, sempre em benefício dos participantes e assistidos. Além disso, temos papel relevante no fortalecimento da governança e da transparência, aspectos cada vez mais valorizados pelos participantes e pelos órgãos reguladores.
O que muda agora com sua chegada à Diretoria de Investimentos?
O foco será dar continuidade ao trabalho que já vínhamos realizando na superintendência, mantendo a atuação estratégica. O desafio é buscar rentabilidade sustentável, em linha com os compromissos da Fundação, reforçando controles, processos e a análise crítica de ativos. Temos que ser cada vez mais técnicos e ágeis, sem perder a serenidade necessária para lidar com cenários de alta volatilidade.
Nossas decisões na diretoria são colegiadas e sempre pautadas por padrões técnicos, éticos e observando a relação entre os riscos e retornos de cada uma das realidades dos planos.
Os aspectos ASG (ambientais, sociais e de governança) têm ganhado espaço na agenda de investimentos. Como a Fundação incorpora esses critérios em sua estratégia de investimentos?
Nós temos buscado integrar de forma consistente os princípios ASG em nossa gestão de investimentos, estando alinhados às melhores práticas de mercado e às diretrizes regulatórias, sempre buscando investir em ativos de empresas com práticas sustentáveis e responsáveis. Isso está alinhado aos valores da Fundação e aos Princípios para o Investimento Responsável (PRI) da ONU, dos quais somos signatários desde 2012. Para nós, além de uma questão de ética, é uma forma de reduzir riscos e fortalecer as carteiras no longo prazo. Na minha visão, o tema ASG incorporará na sua essência a letra E de econômico. Esses 4 aspectos farão avançar essa pauta transformando os temas em itens concretos e relevantes dessa agenda.
Quais os maiores desafios do atual cenário para a gestão de investimentos em previdência complementar?
O ambiente macroeconômico é de grande incerteza, tanto no Brasil quanto no exterior. Isso exige disciplina, diversificação e foco no longo prazo. Precisamos estar atentos às oscilações de mercado, mas sem perder de vista a essência da previdência que é garantir segurança e previsibilidade para o participante. Outro desafio é incorporar temas como sustentabilidade e inovação de forma consistente, sem abrir mão do retorno ajustado ao risco.
Nesse contexto, um passo importante que demos este ano foi a atualização dos benchmarks de referência para os perfis de investimento dos planos de contribuição definida da Fundação caminhando na linha de ajuste ao menor risco nesses perfis, dada a maturidade da massa dos participantes dos planos. Esses benchmarks calibram com mais precisão o nível de risco e a expectativa de retorno de cada perfil, reforçando a transparência na comparação entre desempenho real e esperado. Para os participantes, isso significa maior clareza na tomada de decisão e aderência entre a escolha do perfil e seus objetivos de longo prazo.
Você mencionou os participantes. Qual é a importância deles no centro da estratégia?
Eles são a razão de existir da Fundação. Todo o nosso trabalho só faz sentido se gerar tranquilidade e confiança para cada um dos milhares de participantes. Investir bem significa assegurar que os compromissos de aposentadoria serão honrados. Isso passa, inclusive, por apoiar iniciativas de educação financeira e de transparência, para que cada pessoa possa entender como as decisões de hoje impactam o seu futuro.
E como você enxerga a previdência complementar no Brasil daqui para frente?
Acredito que ela terá papel cada vez mais relevante . O regime público tem limitações conhecidas, e a previdência complementar se coloca como alternativa essencial para manter qualidade de vida na aposentadoria. O desafio é ampliar a cultura previdenciária no país, aproximando as pessoas do tema e mostrando que poupar e investir para o futuro não é um privilégio, mas uma necessidade.